sábado, 29 de dezembro de 2012

Acabou

"That I may somehow take on the weight of your sadness"
(Angela Fraleigh, 2005)

Olhou para mim
Como quem olha
Para o nada
Permaneci calado...
Caí em sua cilada!

Fugi para terra firme
Mas tudo desabava
E meu barco
Perfurado
Afundava, afundava...

Hoje foi o fim
E tudo que posso dizer
Não há nada a dizer

Hoje foi o fim
E tudo que posso sentir
Não há nada a sentir

Hoje foi o fim
E tudo que posso fazer
Não há nada a fazer

Hoje foi o fim
Foi o fim
O fim
Fim

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Definhar

 "La persistencia de la memoria" (Salvador Dalí, 1931)




O caminhador
Caminha
Com a minha dor

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Deslembrar

"Thought Process" (Andy B. Clarkson, 2008)

Sigo com lembranças das quais
Eu não me encontro em memória
Como se eu não fizesse parte
De minha própria história

Vejo sorrisos distantes
De dias em que não me vi
Vejo pessoas com quem estive
Mas eu não estive ali

Sinto o gosto daquele beijo
Que me deram e eu não beijei
Sinto o calor do abraço
Que me deram e eu não abracei

E todos os momentos parecem
Ter sido sempre assim
E todas as fotografias saíram
Com um vazio em mim

E dor maior do que a dor
Que agora mesmo eu sinto
É procurar o alguém
Do passado que não tenha vivido

Vivo...Esquecido 

Libélula II

"The Last Angel" (David M. Bowers, 2009)

E as palavras mudas assim conservaram-se
E os lábios cuspiram o que realmente sentem
E cada abraço apenas se perdeu em solidão
Há tanto se foi o dia do enterro,
Remete a lembrança, fatiga no peito 
Tantas foram as noites bebendo na fonte do erro
Que agora, só agora, é possível sentir
A morta esperança tragada contígua!

Oh devaneios, por que me possuem?
A febre retornou e delirou em meus braços
Por que me obrigas a alçar vôo
Por sobre fúnebre mundo?
Ah, para avistar a libélula! É ela! É ela!
O cálice para cura da existência,
Fazendo de meu sonho algo eterno...
Sim, outrora jaz!
Grande foi a quimera que me trouxe:
Ao Amor, um clamor sufocado,
Ao coração, mortalidade em sono profundo...

Mas no pulsar de desejos, a negação prevalecerá
Cada fibra sempre negará seus infindos impulsos
A vida seguirá seu caminho ausente de mágoas
Por entre todas as estações do ano
A natureza vai nascer vai crescer e serão
Meus os frutos por mim alcançados
E tudo que permanece enterrado pelo tempo
Não romperá o chão das memórias, afora o que ainda tem vida...

O Segredo

"The Secret" (David M. Bowers, 2009)

Devaneio ao que arrisca devoção
Por julgar-se consubstancial
De certo artista:
Este delira no ocaso
E seguinte na aurora
Ousado a adentrar
No impreciso universo
De teorizações e
Ordens dogmáticas...
O segredo,
Teológico-científico arcano,
Experimento de lavor primoroso
E imensurável,
Conservar-se-á intacto
Nas entranhas
Da biogênese heterotrófica –
Mas em inconclusa
Recomposição da humanidade


terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Aforismo


"Nurse Sue" (Mark Ryden, 2006)
Meu ego tão dolorido
Palavras me fizeram sangrar
Vi passado e presente colidindo
E acontecimentos a retornar

Era uma grande árvore
Cresci com força, me prezavam
Mas meus frutos apodreceram
E as suntuosas folhas secaram

Onde estão aqueles pássaros
Que em outros tempos me procuravam?
Onde estão aquelas raízes
Que os tristes versos cortaram?

Inveja estragou os frutos
A ira secou as folhas
Orgulho espantou os pássaros
A luxúria atraiu maus olhos

Não sei por que de repente
O sol parou de brilhar
Agora me sinto semente
Sem condições p’ra brotar



sábado, 22 de dezembro de 2012

Libélula

"Dragonfly" (Michael Godard)

Na plenitude de um olhar, as palavras mudas
Formavam uma agradável canção aos ouvidos
Deusa de candura e luz
Enquanto os braços se envolviam na agitação
Logo, os lábios se uniram em uma química
Superior a de qualquer vaga teoria,
Pois aquelas duas matérias tinham uma
Reação única, complexa, inexplicável...

Em princípios de um amor
Era o despertar de mero sonho acordado,
Perfeito e repleto de sombras de belas ilusões!
No peito, faz manifestação
Uma sensação de agonia quando distante
De conforto quando se aproxima:
Adormeço desabitado
Com o paladar do acerbo passado
E pela janela me entristeço
Ao olhar o falso brilho do luar
E saber que a sombria libélula
Como a pluma no vento paira e desaparece

Céus e estrelas, crepúsculo enfeitiçado
Por sobre nuvens afáveis, um último suspiro:
Que os olhos sejam como a alvorada da primavera
E que os corações conservem o fogo do entusiasmo
Cresça o sublime sentimento do instante
E se torne imortal como o inexplicável sonho carente
De te abraçar em meio à plenitude e inquietação
De te desejar a cada passo incerto que transpor
Uma vez que te amar componha a maior verdade


Coartatis

"Horror Vacui (Fear of Empty Spaces)" (Carlos Estevez, 2006)






com inspiração
sem expiração
eternamente balão

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Madrigal Hemorrágico


"Earth to Earth" (Johnson Cheung Shing Tsang, 2008)

Olha, aprecia e ignora
se exibe, sorri, ilumina
namora e troca olhares

Chega, cheira e some
seduz-se, volta e pega
canta e fica a despetalar

Logo se fere, se fundi
magoa e se enfurece
abaixa e recolhe pétalas

Chora, grita, mistura
e então repara e percebe:
Sangra sua intensa cor

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Amor (ou O Narcisista)

"Echo and Narcissus" (John William Waterhouse, 1903)

Obcecado por sua beleza
afogou-se no lago de esplendor
deixando Eco chorar toda tristeza
“Amor, Amor, Amor...”

O Amor morreu
mas ainda ecoa

Canção para Cecília

"Cecília Meireles" (Regiane Bassani, 2009)

Fiz um dia uma carta
Fiz na carta os sentimentos
Fiz nos sentimentos os sonhos
Fiz nos sonhos uma vida
Fiz na vida um amor
Fiz do amor uma fragilidade
Fiz da fragilidade uma carta
Fiz da carta um barco
Fiz do barco um náufrago

domingo, 16 de dezembro de 2012

Ocaso

"Star Eaters" (David Eppen)


Quando percorro o céu cheio de estrelas
Eu me sinto uma criança
Que se encara olhos nos olhos diante do espelho
Com a esperança de enxergar o que há por dentro

Ah, mas quanta ingenuidade a minha...
Não tem luz própria nessa escuridão!

sábado, 15 de dezembro de 2012

Não Último Adeus (ou Catalepsia)


"The Premature Burial" (Antoine Wiertz, 1854)

Avisei-me
Acompanhei-me
Comprei flores

Tempestade e eu me cortejávamos

Não finda vida
Escancarei a boca, ponderando:
Ataúde vai bem, obrigado
Só é desesperar a soledade